quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Cara Humanidade, você me decepciona.

Lá fora faz um dia normal.

Os pássaros cantam, a vida eclode, tudo está bem.

Mas a primitiva natureza de bicho-homem, meio animal e meio besta, não está satisfeita.

Não basta sua própria existência, preocupa-lhe as demais.

A função de ser organicamente feliz de outras espécies incomoda porque, biologicamente, é insuficente.

Não basta dedicar-se à si e, talvez por não haver muito o que que encontrar, necessita de mais.

Passa então à ocupar-se com os ditos e os desditos, com a matéria daquilo que está à sua volta, com os bons costumes, com o inadmissível e com o que não pode compreender.

Preocupa-se tanto que se esquece do resto.

Esquece de ocupar-se com o silêncio, com seu espírito, com a moral e também com o admissível. Esquece que o incompreensível também vale a pena.

Pois já dizia Fernando que tudo vale a pena.

Bicho-homem, dominante evoluído, incapaz de ser feliz.

Então enche os olhos de lágrimas e sofre.

Os pássaros ainda cantam, a vida ainda eclode, mas o que mesmo é o bem?

Sei lá, tanto faz... Os dias ainda são iguais.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Nota prévia: Voltando ao Ninho, quiçá para ficar, tive esta ideia louca de postar às terças-feiras algo meu. Talvez prossiga com esta mesma linha, alternando o tema, toda semana...quando pensar em algo, adiciono um nome à esta brincadeira. Sem mais, vamos ao texto...

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Angústia

Escuro. Silêncio...Solidão.    
Passos firmes na escada.
Inquietou-se.
Inspirou profundamente, fechou os olhos e contou.
Contou cada pegada, cada estalar da madeira velha, cada batida de seu coração digno de pena.
No meio de uma esperança dolorosa chegou a desejar misericórdia.
Respiração cortante, o gotejar de roupas no soalho... Lá fora chovia.
Uma porta qualquer se abriu no corredor e os passos se perderam na imensidão de seus pensamentos.
Não era, ainda não.
Onze e trinta e sete.
O tempo arrastava o vazio com correntes de crueldade.
Talvez tenha sido melhor assim.
Talvez ainda pudesse acreditar.
Talvez, talvez, talvez...
Não tinha como saber.
O barulho dos ponteiros girando no relógio, a chuva castigando a noite, sua própria respiração ruidosa...
Os porquês se embaralhavam em sua mente como cartas.
No apartamento ao lado a TV ligada em um programa qualquer, barulho de risadas artificiais em algum lugar.
Não, provavelmente não.      
E o que iria fazer?
Não havia culpados à quem acusar, testemunhas para inquerir ou juízes para sentenciar.
Escuro.
Não havia mais nada lá.
Silêncio.
Nunca houvera.
Solidão.
Nem haveria...